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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Série Vampiro, a saga – Parte II


Agora que você já me conhece, pelo menos o que precisa saber, ficará mais fácil seguir com essa narrativa. Sou Augusto T. – e esse bendito T provavelmente permanecerá um mistério, sendo assim, não perca tempo com pesquisas e afins. Deixe-se levar pelo desconhecido. De nada vale uma grande história se entregue de cara nos primeiros parágrafos. Vamos com calma, temos muito que saborear. Pense nisso como uma bela refeição de domingo. Óbvio que para alguém como eu isso se resumiria a puro sangue, como em qualquer outro dia da semana. Mas para você, caro leitor, certamente fará algum sentido.
Vamos ao que interessa. Minha historinha. Meu suculento relato. A comida está na mesa, sente e sirva-se. Apenas cuide para não engasgar, nem todos tem o dom de sobreviver a tudo.

Definitivamente era uma noite daquelas. Chuva, muita chuva. Toda aquela água transformando ruas em grandes pátios esburacados e lamacentos. Não houvera uma noite calma há dias. Apenas a chuva tomando conta de cada canto, como se o planeta estivesse mergulhado no mais obscuro apocalipse. Andava sem pressa alguma por uma viela qualquer. Não buscava eu nada em particular. Deixava a chuva encharcar meu paletó preto e longo, enquanto meus cabelos tomavam conta de meu rosto. Acredito que andava mais por intuição à qualquer outro sentido possível. Entenda o seguinte. Quando não há rota pré-estabelecida, não há frustrações. O que encontrar fará sentido, ou não. É um risco demasiado intenso e agradável. Perambular, deixar o tempo passar como se este nada significasse – mesmo que de fato nada signifique para um vampiro.
O fato é que nesse perambular sórdido ouvi algo o qual muito me chamou atenção. A música criada por um piano no alto de um dos prédios imundos, que mais jazia que existia. Parei por alguns segundos, tentando desvendar a melodia agressiva. As teclas me pareceram gritar por socorro, tal era a voracidade do ritmo. Fiquei encantado, deslumbrado e, acima de tudo, intrigado. O instinto me dizia para me afastar, enquanto minhas pernas já caminhavam em direção ao som. Se há algo que realmente gostos nesses prédios moribundos, é a facilidade da escalada. Seria como subir uma escada. E assim o fiz até o último andar.
Do vidro embaçado, daquela janela enferrujada, a vi pela primeira vez. Minha adorada. Chorava como criança. A cabeleira loira espalhava-se no ar acompanhando o vai e vem da cabeça enlouquecida. As mãos tocavam as teclas com tanta firmeza que me pareceu o piano feito de aço, para aguentar tamanha revolta – isso sim era algo a ser presenciado, não merecia o anonimato advindo daquele cubículo mal mobiliado e pessimamente decorado. Permaneci ali até a última nota esplendidamente finalizada. Quando terminou, ela permaneceu ali. Não havia soluções, sons em seu choro. Lágrimas, apenas lágrimas. Respirava com dificuldade, havia se entregue a música com todas as forças. Mal consigo descrever meu fascínio. Desejei possuí-la naquele mesmo instante. Tê-la em meus braços, num abraço apertado, sentindo seu cheiro, imaginando seu gosto antes do gole demoníaco. Senti seu sangue pulsante, o coração acelerado, mesclados com a tristeza absurdamente estampada na cara. Aquela criaturinha indefesa, não poderia imaginar estar sendo observada pelo monstro de mármore.
Deixei-a. Assim como ela, estava deliciado. O que ali busquei, encontrei e me esbaldei – por hora. A chuva tornara-se ainda mais convidativa, prazerosa. Voltei para meu refúgio com um sorriso de moleque. Uma felicidade plena, misturada a inquietude do mistério em si. Ela se tornou meu mistério, meu objetivo, minha sina.
As noites que se seguiram de nada valem. Visitei Ana algumas vezes mais, depois me mantive afastado por um. Sabia o risco de uma paixão nesse momento e não estava disposto a enfrentá-lo. Para um vampiro, tudo está elevado à vigésima potência. Não há meios termos, não há limite. Vivemos a beira do penhasco a cada noite transpassada.

E agora estas a se perguntar se pararei por aqui e lhe deixarei a mercê da espera. Não, de fato não tenho esse intuito, preciso apenas de uma breve pausa. Sou feito de etapas, vivo por partes, prefiro assim. O todo me irrita, me desagrada ao ponto da histeria. Ainda assim preciso escrever mais. Estou aqui tentando me livrar de algo que me incomoda. Algo que me faz lamentar minha própria existência. Entenda que ao ver Ana pela primeira vez, não pude entender o quanto isso me afetaria. O quando isso alteraria minha forma de encarar qualquer sentimento advindo de um mortal.
Mas continuemos. O sol ainda está longe de nascer.

Enfim, continuando. Não resisti, voltei até ela como um rato retorna assustado à toca. Lá estava novamente tocando, no mesmo horário de sempre, na mesma fúria. Mas desta vez algo aconteceu. Enquanto permanecia ali, em silêncio, ela parou abruptamente de tocar.
- Você vai continuar aí fora ou vai entrar de uma vez? - Não se moveu enquanto falava - Por favor, não me faça levantar e abrir a janela. Sei que tem força mais que suficiente para isso.
Fui pego de surpresa. Nesse instante eu fui quem permaneceu imóvel, estupefato. Que rumo deveria tomar? Há tempos não sabia o que era falar com um humano, ao menos sem o intuito de me alimentar dele. Sabia ela o que eu realmente era? O que quis dizer com força mais que suficiente? Uma névoa espessa anuviava meus pensamentos. Estava literalmente em choque. Foi quando ela se virou e pela primeira vez vi seu rosto a me encarar. Lindamente mal cuidada é o que melhor poderia lhe definir. Olhos azuis, boca pequena e magras bochechas. Um rosto quase limpo, ou quase sujo. A expressão doentia da dor demarcada em cada traço, em cada linha. Os cabelos, como de costume, não penteados, emaranhados e livres de qualquer refinamento. Uma mulher, de fato, curiosa.
- Vamos vampiro, entre, não tenho a noite toda.
Nunca havia sido reconhecido. Alias, isso é algo que jamais me ocorreu poder acontecer. Aquela humana me tinha de quatro. Não consegui fugir. O mistério envolto em Ana era maior que qualquer coisa que já ousara sentir. Deixei-me levar pelo momento. Dei-me ao luxo de não usar disfarces e assim, finalmente, abri a janela sem qualquer esforço. Entrei.
- Como soube? Havia quase uma suplica em minha pergunta. Senti-me um menino enfrentando a mãe enfurecida.
- Não podemos começar por aí. Que tal parar de pensar besteiras e se concentrar no que realmente importa? - veio em minha direção a passos lentos - Uhm! Então é assim que vocês são.
O que se seguiu foi um breve momento de silêncio. Pairava sobre mim a dor da vulnerabilidade. Porém, não estava disposto a fugir, afinal o que uma humana, por mais intrigante que o seja, poderia fazer contra um vampiro de mais de 100 anos? Nada. Aquela altura tudo que me parecia familiar sumiu. Virei um boneco de voodu sendo espetado por agulhas traiçoeiras.
- E por onde deveríamos começar minha cara? - Tomei fôlego, ganhei corpo. Minha voz parara de tremer, enquanto minha postura de erguia.
- O mais importante seria: por que demorou tanto? - sentou-se no sofá revestido por um pedaço de pano esburacado e tristemente cinza – Sim, eu sei, não está entendendo nada. Em nosso primeiro encontro ficou evidente sua falta de atitude, por isso já esperava ter que tomar as rédeas agora.
Nosso primeiro encontro? Poderia não ter certeza de muita coisa naquela hora, mas de algo eu sabia, nunca, jamais havia falado com aquela mulher – nem em vida e muito menos na morte. Fiquei em silêncio e aguardei que continuasse.
- Deveria sentar. Não há respostas rápidas. Na verdade, há mais perguntas que respostas. De fato entenderá, aos poucos, que estou tão perdida quanto você nessa história toda.
- Há tempos você me aparece enquanto durmo. Em sonhos? eu creio que não. É algo maior, muito mais especifico que um mero devaneio. Durante estas passagens sinto claramente o tempo, o frio, o calor, teu corpo, absolutamente tudo. E ao voltar nada se apaga e ainda, há sempre uma continuidade. A questão é: desde que isso começou a paz me abandonou e deu lugar a agonia incessante.
A vontade foi gargalhar. Idiota em pensar que aquilo tudo poderia significar alguma coisa. Abstive-me das risadas por mera educação. Daquele momento em diante sabia que não demoraria a hora de minha partida sem retorno, para longe dela, se iniciar. Quando fiz menção em falar Ana fez sinal para que me calasse. Foi até mim e me abraçou. Meus braços hesitaram em envolvê-la, mas logo se renderam.  O cheiro de suor me invadiu. Fiquei tonto com o calor daquele corpo contra o meu. Largou-me e olhando em meus olhos falou:
- ria se quiser. Mas isso de nada mudará os fatos.
Não pude aguentar mais. Empurrei Ana para o sofá e ali a deixei. E tão rápido quanto poderia um vampiro, ganhei a rua. Aquilo tudo foi absurdo demais para uma única noite. Precisei me afastar e colocar minha cabeça em ordem – sem aquele cheiro, sem aquele coração barulhento. Ela me intrigou. Ela me teve em seus braços e certamente, muito mais me teria.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Textos dos Colaboradores - Leriana Martins


Texto enviado por Leriana Martins

Amor Vampiro

Mais uma noite fria
Como sempre a garganta seca
Sinto teu cheiro
Desejo teu gosto
Intenso, forte, dentro de mim

Preciso de você

Toco seu pescoço
Traço um risco no seu peito
Com uma unha pintada de vermelho
Escorre um filete límpido de sangue

Frenesi, medo... suor

Toco de leve minha língua no teu sangue
O doce sabor da vida
Vejo meu reflexo em teus negros olhos
Tenho mais vontade de você

Descontrole cresce ainda mais
Cravo meus dentes
O sangue jorra, espalha pelo chão
Finalmente tenho você em mim

O tempo segue e sinto nunca estar saciada
Tenho pressa por novos amores
Mas amanhã voltarei
E então por ti novamente me apaixonarei


Série Primeira - Vampiro, a saga

Esta é primeira parte da série Vampiro, a saga. Está história será contada através de contos curtos, postados semanalmente.



Vampiro, a saga - Parte I


Hoje parei pra pensar quantas mil histórias sobre vampiros circulam por aí. São tantas a se perder as contas. Parece que o assunto é de interesse geral – essa ânsia pelo sobrenatural, pelo desconhecido, não é uma novidade afinal. Peguei-me lendo algumas destas, mesmo que sem muito interesse, tentando captar alguma verdade – muito pouco se aproveita. De fato, acredito em vampiros. Não por ser fadado a acreditar, ou por estar perdendo a sanidade, mas sim pelo fato de que sou um – a verdade inevitável. Arregalou os olhos? Ou ainda pensou “aí vem mais um maluco”. Pouco me importa. Estou aqui apenas respondendo a um chamado insensato de meu ego. Estou somente preenchendo, com esta futilidade, o tempo que há muito deixei de perceber.
Veja bem. Quando se tem tanto tempo disponível, contá-lo realmente torna-se algo desagradável e inteiramente obsoleto. Nada bom pode surgir disso. A loucura viria inevitavelmente. Ainda assim é um aprendizado demorado e custa caro não tentar compreender.
Inicialmente você não passa de um menino conhecendo o mundo. Pela primeira vez por conta própria. Nesse período são muitos os erros, os esbarros e tropeços. Não há nada. Repito. Nada maior e mais maravilho do que experimentar a liberdade – mesmo que esta seja apenas uma máscara mundana para a intrínseca realidade. Aquela na qual se conhece a mentira por trás da prática de liberdade.
Enfim, um garoto. Um garoto experimentando o sexo pela primeira vez. Isso sim trás a tona uma boa comparação. Mas no caso dos vampiros esse êxtase se estende a toda experiência inicialmente vivida – e perde-se facilmente quando repetida. A não ser o gosto pelo sangue. Esse por mais que seja provado, nunca é o suficiente. Mesmo os mais velhos dentre nós não abandonam o hábito, ainda que pouco precisem. Ter o sangue em si, abrindo caminho pelo corpo amplamente receptivo. Jorrando da veia pulsante enquanto o uníssono de dois corações torna-se cada vez mais perceptível e atraente. Ou quando este vai-se indo – um misto de dor pela perda do momento, com o exacerbado efeito de se estar saciado. Sentir a vida de outrem se esvaindo aos poucos, num sopro nem curto, nem longo. Um palpitar maravilhoso. O puro poder e controle sobre o alimento. Tudo isso se soma para criar a atmosfera atraente na qual vivo.
Matar. Matar é meu real prazer. No inicio nada mais que uma necessidade, hoje uma fonte de prazer infinito. Nunca abandono uma vítima viva – desperdício. Há milhões no mundo e preciso de minha cota. Tenho minhas preferências, mas um cardápio variado é a chave do negócio. Não me contento com um assassino, ladrão ou qualquer outro errante. Não busco perdão, não acredito no divino. Sou o que sou e faço jus ao meu nome. Não poderia me esconder por trás de uma infinidade de sentimentos clichês – não preciso disso. Como disse, o segredo para viver a eternidade é fazer o necessário para manter-se vivo. Essa é uma das artimanhas que mantém sobriamente ativo há quase um século.
Um século não é muito. Claro que não vocês devem pensar. A diferença entre nós reside nos muitos séculos os quais ainda verei passar. Enquanto vocês todos já estarão mortos – muitos mortos por minhas mãos. Ou melhor, por minhas presas. Sendo assim faço uso de uma bela gargalhada no momento. Até fiz uma pequena pausa na narrativa para recuperar-me da insanidade deste pensamento. Tornar-me vampiro foi a melhor coisa que me poderia ter acontecido.
Hoje mesmo ao caçar a primeira refeição não me contive. O homem andava por aquelas ruelas com um sorriso estampado no rosto avermelhado e desbotado. Firme, cheio de equilíbrio e confiança, como se nada o pudesse atingir. Sabia o motivo da felicidade, já estava de olho nele há alguns dias, mas precisei esperar a hora certa para aproveitar ao máximo a caçada. O bolo de dinheiro que carregava consigo não fazia a menor diferença, tenho fortuna o suficiente por hora. Sua soberania infundada me corroeu e as gargalhadas brotaram instantaneamente. Quando me viu o homem petrificou. Aquela estátua macia e cheia de sangue deixou a confiança morrer antes dele.
Não tive pressa. Aproximei-me devagar, não por pudor, mas por pura diversão. Ele pensou em correr, mas já estava atraído demais para isso. Minha pele extremamente branca atiçou sua curiosidade e logo depois o pavor paralisante. Cheguei tão perto a ponto de transpassar-lhe se assim o quisesse com apenas um passo. Acariciei aquele cabelo macio, longo e tão negro quanto aquela noite sem estrelas. Deixei minhas mãos passearem pelo peito semi exposto, enquanto atirava meu corpo para mais perto do dele. Não ouve mais tempo, nem lugar, nem pensamentos. Beijei-lhe o pescoço cravando minhas presas em seguida. O sangue jorrou imediatamente me possuindo por completo. Cada fibra de meu corpo gritava escandalosamente em parceria com a ardente chama que me preenchia. Suguei sua vida em menos de um minuto.
Abandonei o corpo ali mesmo, sem precauções. Nos tempos atuais acreditar em vampiro seria como pedir entrada em um hospício. Não costumo curar os furos que criei. Apenas mordo e crio uma grande ferida, provavelmente como o seria num ataque por um cão ou qualquer coisa parecida. Não tenho desejo algum em esconder ou dilacerar o corpo – somente uma mascarada já é mais que suficiente.
Não tema. Rara é a chance de vocês se depararem comigo. Mas se acontecer não terão tempo sequer de lembrar o que leram aqui. Talvez me achem cruel depois dessa leitura. Ou mesmo impiedoso. Afirmo não me enquadrar em nenhuma das definições, vocês apenas não têm como entender um vampiro. Escreverei mais, porém não agora. Narrarei em breve algumas de minhas andanças mundo a fora. Se lhes interessar voltem. Isso de fato pouco me importará – continuarei vivendo.
Chamo-me Augusto T. e voltarei em breve.

Do desapego ao vento

O vampiro deitou-se na areia da praia. Já passava das três da manhã. Havia se alimentado há pouco – está saciado. Sua pele ganhara um rubor extraordinário, dada as circunstâncias. O corpo inteiro lhe aparenta aquecido, mesmo sendo apenas um estado mental, muito longe da realidade da sensação em si. O agitado lhe fornece a sinfonia necessária para a noite – como musica clássica pensa ele. Uma melodia agressiva, ao passo que desconcertante. Quase surreal. Experimenta ele a plenitude da solidão em harmonia com o aparente sossego de sua mente – outrora mergulhada no mais anuviado pensamento.
Recordações começam a se formar. Recordar é algo que um vampiro o faz a todo instante. Não são poucos os arrependimentos, nem mesmo poucas as exuberâncias de sua vivência. Seria como ser um mortal elevado ao cubo. Há espaço para todos os tipos de sentimentos, e ainda mais há de vir. Nenhuma recordação suplanta a outra. Cada qual vive no seu espaço, em sua infinita individualidade. Há de ser assim para todos.
Enquanto está ali deitado, não precisa de nada mais além do que já tem. Tem tudo o que precisa para várias vidas. Ainda assim falta-lhe algo. Algo o qual ainda lhe escapa por entre os dedos como água corrente. Procura o vampiro não pensar demais em tal coisa, deixa-se apenas levar junto da noite que se perderá logo, dando espaço a um novo dia – dia este que não faz parte de sua existência há muitos séculos.
Levanta-se. O sol já está para nascer. Já é possível ver as nuvens tornando-se avermelhadas. O céu está pronto para explodir em luz. Ao longe já pode ouvir a cidade acordando, entrando em seu ritmo habitual. Depois de tantos anos vivendo chegará a hora de experimentar algo novo. Algo que lhe fizesse sentir algo que lhe foi roubado desde o primeiro momento de sua transformação – medo. Com calma tira a camisa, depois a calça. Vai se livrando de cada peça como num ritual sagrado, como que concentrando suas forças para tornar este momento único, inigualável.
Finalmente nu. Lágrimas avermelhadas borram-lhe a face branca e extremamente lisa. Gotas desse sangue denso escorrem até seu peito. Nunca arriscara ficar sem proteção tão perto do nascer do sol. A visão lhe cansava torrentes de prazer e medo. O vampiro tremia. Tremia como nunca tremeu em vida, ou na morte.
Abriu os braços. Pensou em abraçar a natureza que o envolvia. O sol cada vez mais alto, cada vez mais perigoso o ameaçava vorazmente. Um caçador prestar a engolir sua presa numa única abocanhada. O vampiro explode em chamas. Seu corpo vai se desfazendo rapidamente, consumido pela fúria solar. Ainda assim não se movimenta. Um ultimo olhar para o horizonte claro. Um ultimo prazer antes da partida inevitável.
Cinzas. O vento se encarrega de espalhar a evidencia crucial de um ser. Apenas a roupa elegante ali jaz. Toda a praia tornou-se seu túmulo. Cinzas, cinzas ao vento.